maio 09, 2010

CineBororó: Whatever Works

O CineBororó desse mês (pra quem não lembra, já falei dele aqui) foi com o novo filme do Woody Allen: "Whatever works".

O filme conta a história de Boris Yellnikoff, um ex-físico (ou como ele mesmo se descreve: um gênio), que é um velho ranzinza e cheio de neuroses, que se considera a única pessoa capaz de entender a insignificância da raça humana e do caos do universo. Até que ele conhece Melody, uma guria do interior do Mississipi, bem "burrinha", que fugiu da casa dos pais e não tem lugar pra ir. Os dois acabam vivendo juntos. Até que a mãe, e depois o pai, a encontram em NY.

Woody abusa de personagens caricaturados, mas retrata muitos pontos ligados aos tipos de relacionamentos que mantemos. Mais uma vez, Woody é genial.

Alguns comportamentos interessantes retratados:
- a maneira fechada de Bóris, que fala-fala-fala-fala sem parar (total woody style), sempre atacando e apontando os defeitos dos outros.
- como a Melody se apaixona por ele, e molda sua personalidade, seus gostos e jeitos para viver por isso;
- essa baixa auto estima de Melody, que acredita que estar casada com um "gênio", foi uma conquista que nunca imaginou que merecia ou seria possível;
- e ao mesmo tempo, o jeitinho dela, meio dissimulado, que consegue fazer as pessoas acatarem suas vontades;
- a escolha que a mãe de Melody faz, de reprimir um talento seu, e tentar diminuir essas frustrações na filha;
- o pai medroso, que só consegue ser totalmente sincero com um estranho;
- a descoberta da sua verdadeira sexualidade (e isso é bem comum aos filmes do Woody);
- e o momento em que as pessoas se dão conta que elas têm personalidade (um ser pensante) e que perderam o laço de comunicação com aqueles que antes eram "sua razão de existir".

Isso pra listar alguns dos temas do filme!
É muito bom fazer essas discussões, pq nem sempre identificamos todos os comportamentos de cara ou faz uma ligação com a nossa realidade. Pq às vezes, nem nos damos contas que passamos por aquilo. E durante a conversa, eu me identifiquei com muita coisa. Será que é por que eu tenho um irmão físico ranzinza? ;)


E, alguns dos tópicos que foram discutidos depois:
1. A Melody, que viveu em uma casa com dois pais reprimidos, que nunca expressaram sua personalidade de fato, faz esse mesmo jogo com o Bóris. Ela se molda pra ele, ela vive o jeito dele. Ela abandona a sua personalidade. Essa trama central do filme
(já que acontece em todos os outros personagens prinicpais) retrata algo que eu já discuti muito aqui no blog. Talvez ela precisava passar por isso, para atingir uma nova fase na sua vida. Ela precisava ser acolhida por alguém, antes de ser acolhida por ela mesmo. Mas é fundamental entender que você é uma pessoa sim, com desejos, vontades, crenças, talentos. E que sua opinião importa, independente da importância da outra pessoa.


2. É preciso tomar mto cuidado, com as pessoas que usam muito da ironia e sarcasmo (como o personagem principal) ao falar dos seus sentimentos. Esse é um recurso mto utilizado por aqueles que não conseguem se comunicar direito. É uma forma de mascarar os próprios medos, atacando os outros. E quem mais sofre, é quem convive com essas pessoas, que pode cair na armadilha de acreditar no que o outro diz.

3. Não podemos culpar os outros por nossa própria infelicidade. Existem pessoas que nos fazem aflorar sentimentos que não gostamos em nós mesmos. Mas a culpa não é deles. Nós que precisamos aprender a lidar com isso: nos conhecendo melhor, entendo porquê nos sentimos assim e acolhendo todos os nossos lados... precisamos ser uma pessoa integrada, em todas as nossas versões.

4. E por isso mesmo, a gente não precisa ser feliz o tempo todo, em todos os momentos. Isso é "puro delírio de grandeza"...

Na verdade, a essência do filme é mto boa: faça "whatever it works for you" para ser feliz... se aceite, se ame, se odeie, tenha coragem, mude. viva melhor. viva a felicidade possível...

whatever works

Ah, e agora todo primeiro sábado do mês tem CineBororó. Pra quem se interessar.

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